Atualmente, os trabalhadores simples, a maioria das mãos e braços que realmente trabalham - os homens e mulheres que batalham todo dia para garantir saúde, educação e alimento todo o mês - tem acompanhado cada vez mais a usurpação e privatização dos seus direitos básicos e lentamente tem sido incorporados num sistema que os cobra pelos seus direitos como se eles fossem privilégios.
Um estado tem o dever de - no mínimo - garantir educação, transporte, lazer, saúde e saneamento de qualidade à população que paga impostos altos que são mal empregados, quando empregados, e além disso tem sido forçada a pagar pedágios para usar as estradas, pagar pela educação de qualidade, e às vezes não poder procurar emprego ou mandar os filhos para a escola porque a passagem municipal é muito cara ou até o direito constitucional à greve.
Ocorre constantemente um sucateamento aliado a demonizaçãodo setor público para que as pessoas sejam levadas a procurar os setores privados, vemos isso com frequência no setor de saúde pública, onde as pessoas tem que enfrentar filas exorbitantes para tentar um atendimento, sendo que muitas delas se veem obrigadas a se privar de outras necessidades básicas para pagar por um atendimento médico privativo.
Programas governamentais neoliberalizantes tentam maquiar essa realidade da má utilização do dinheiro público com medidas do tipo Bolsa Familia, que se utiliza da velha política do "pão e circo", acalmando a população sendo dessa forma uma medida de controle da massa, evitando a tomada de consciência da mesma que levaria a mobilizações.
Assim tido, com todo direito e razão, a população canaliza suas demandas nos movimentos sociais - na tentativa de alcançar condições dignas de vida - e por sua vez, sofrem a repressão física e ideológica dos setores de elite da sociedade - representados pelo governo e suas instituições - e da imprensa, a qual desconstrói e criminaliza a pobreza mostrando-os como essencialmente marginais, vagabundos, sujos, traficantes, de má índole, etc., uma idéia que os mesmos não participam da sociedade aceita e modelo, perdendo seu papel de agente histórico; e criminalizando também os movimentos sociais.
Segundo Pablo Romo, do observatório de Conflitividade Social no México, a criminalização é marcada "pelo desenvolvimento das reformas estruturais que os governos neoliberais iniciaram no final dos anos 1980, agora em sua segunda fase."
Para ele, na relação entre movimentos e Estado "estão se reduzindo as possibilidades de saídas negociadas, pois por um lado o Estado está cada vez menos disposto a fazer concessões substantivas, e justificam esse endurecimento, qualificando os movimentos de extra-legais e ilegítimos, não merecendo ser incorporados por meio da pressão a nenhum tipo de negociação/acordo. Por outro lado, um número significativo de movimentos está cada vez menos disposto a ceder frente à decisão vertical ou aos danos e destruição a que são submetidos", e isso acontece em todo o mundo.
Vivemos num momento de crise financeira mundial e consequente crise do sistema capitalista, numa tentativa de manter e sustentar esse sistema, o Estadotem intensificado a repressão aos movimentos sociais que, nessa hora, mais do que nunca, tem um espaço ampliado de atuação e podem demonstrar as falhas desse sitema que nem a mídia neste momento pode idealizar.
No Rio Grande do Sul, por exemplo, o governo Yeda Crusius está constantemente em conflito reprimindo movimentos sociais como o MST, os sindicatos, etc., a favor dos interesses das grandes transnacionais, das elites agrárias, mesmo que para isso muitas vezes aja com violência sobre crianças e ou mulheres - como por exemplo, as mulheres da Via Campesina, fortemente reprimidas pela Brigada Militar em manifestações como a derrubada simbólica de eucaliptos da Aracruz Celulose.
Nós, integrantes dessa massa criminalizada, notamos que, muitas de nossas lutas se configuram por direitos que estão na Constituição e são atropelados pelo constante enfraquecimento do Estado pelos interesses dos conglomerados multinacionais. Mantém e aumentam nossos deveres e escondem e negam nossos direitos.
Esse texto foi feito por mim, em parceria com: Luana Ferreira, Daniela Possebon (academicas do curso de História) e Djefri Pereira (estudante do curso técnico em Agroindústria).